quarta-feira, 17 de junho de 2009

LINGUA AFIADA


Nós sabemos que a palavra diálogo significa conversa entre duas ou mais pessoas.
Enquanto um fala, os outros escutam.
Quando se trata do casal, o saber ouvir e o saber falar, fazem a diferença no crescimento e no conhecimento de um e de outro.
Lembro de uma antiga piada, contada em encontros de noivos:
- Quando nós éramos namorados, dizia ele, eu falava e você escutava. Quando ficamos noivos, você falava e eu escutava. Agora que estamos casados, nós dois falamos e os vizinhos escutam!!!
Há momentos em que é necessário falar, colocar as próprias opiniões, corrigir situações e modificar o rumo da vida. Omitir-se, nestes momentos, será grave falta que irá alterar, no futuro, a vida dos dois. Saber dizer o "sim", quando ele se faz necessário, de uma forma clara e concorde. Saber dizer o "não", também quando ele se faz necessário, com a força de quem sabe que sua liberdade pessoal assim o exige.
Engolir desgostos, frustrações ou mágoas, raivas ou contratempos, meses ou anos a fio, invariavelmente se transforma em doença. Torna as pessoas amargas, revoltadas com a vida e com todos os que os cercam. Fale, por favor! A palavra é sua! Saiba usá-la!
Se a palavra vale prata, diz o provérbio, o silêncio vale ouro. E há momentos em que o silêncio se faz necessário. Não se trata do "quem cala, consente". Falo do silêncio consciente, carregado de amor e de responsabilidade.
Falo do silêncio de quem, num momento de raiva, diria bem mais do que necessário. De quem rebaixaria o outro, em vez de qualificá-lo.De quem usaria palavras mordazes, ferinas, machucando, em vez de curar a ferida.
O silêncio do qual eu falo é o silêncio de que esfria a briga, ameniza as discussões impedindo que sejam jogadas palavras de pólvora, quando o fogo já está queimando demais.
Trata-se de calar até que os ânimos serenem e que se possa expressar, de forma pacífica, a versão dos fatos.
Trata-se de calar, não como quem sucumbe, mas como quem, calando, contornou a situação e ambos saiam fortalecidos, em nome do amor... E, em nome do amor, fazem surgir o perdão!!!





A arte de calar não é um tratado de recolhimento ou de êxtase: visa, paradoxalmente, a falar bem, o que se traduz em comunicar aos semelhantes coisas dignas de serem ouvidas, ou seja, assuntos relacionados à virtude, à sabedoria e à utilidade prática da vida. A arte de calar convida-nos a "governar" a língua, concedendo-lhe apenas a "liberdade moderada", no sentido de melhorar a eloqüência muda do corpo e do rosto.
Ouvimos mal porque não colocamos em prática os preceitos da sabedoria, que primeiramente traduz-se em saber calar; em segundo lugar, em saber falar pouco e moderar-se no discurso; em terceiro, em falar muito sem falar mal e sem falar demais. Ouvimos mal porque raramente nos lembramos da frase evangélica que diz: "Os que têm ouvidos de ouvir, ouçam". Ouvimos mal porque o nosso silêncio é interesseiro, zombeteiro e dissimulador: estamos sempre maquinando coisas para ludibriar, enganar ou passar por cima de nosso interlocutor.
Alguns princípios necessários para calar: 1) só se deve deixar de calar quando se tem algo a dizer que valha mais do que o silêncio; 2) há um tempo de falar, assim como há um tempo de calar; 3) o tempo de calar deve vir em primeiro lugar, e nunca se pode bem falar quando não se aprendeu antes a bem calar; 4) há menos riscos em calar do que em falar; 5) quando se tem uma coisa importante para dizer, deve-se prestar a ela uma atenção muito especial: é necessário dizê-la a si mesmo, e depois de tal precaução, voltar a dizê-la, para evitar que haja arrependimento quando já não se tiver o poder de voltar atrás no que se declarou.
Escrevemos mal porque escrevemos coisas inúteis e muito longamente as melhores coisas. Esse é o defeito de autores pouco judiciosos que não sabem decidir nem escolher matéria que seja de utilidade. É o caso dos escritores de romance, de anedotas. Eles perdem grande tempo compondo as suas histórias, para que nós, depois, também percamos o nosso ao lê-las. Na realidade, deveríamos delimitar o que escrevemos; o defeito da extensão é porque não empregamos tempo necessário para limitar, riscar, suprimir e reduzir na justa medida a matéria que temos em mãos.
Alguns princípios necessários para se explicar pelos escritos e pelos livros: 1) só se deve deixar de deter a pena quando se tem algo a escrever que valha mais do que o silêncio; 2) há um tempo de escrever, como há um tempo de deter a pena; 3) não há mais mérito em explicar o que se sabe, do que em calar o que se ignora; 4) a reserva em escrever muitas vezes passa por sabedoria em um tolo e por capacidade em um ignorante; 5) mesmo que se tenha propensão a deter a própria pena, sempre se deve desconfiar de si mesmo; e para impedir a si mesmo de escrever alguma coisa, basta que se tenha muita paixão por escrevê-la.
"O silêncio é de ouro e a palavra de prata", diz o anexim. Saibamos moderar o nosso verbo, a fim de que as palavras que saírem de nossa boca ou do nosso punho sejam sempre para estimular, enaltecer, incentivar e nunca para destruir aqueles que convivem conosco.




Falar. É isso que as pessoas gostam de fazer. Podemos falar para nós, sobre nós, com os outros, sobre os outros. Falamos, perguntamos, respondemos, partilhamos. Conhecemos pessoas e nos tornamos amigos precisamente através da partilha - de impressões, de sentimentos, de experiências e conhecimentos. A curiosidade é um ingrediente essencial neste processo, especialmente quando existe algum interesse e identificação com determinada pessoa. É excusado sublinhar que onde há segredos, mistérios e personalidades interessantes a curiosidade é, naturalmente, sempre a dobrar. Há a curiosidade natural das pessoas interessadas em nós, que simplesmente nos querem conhecer melhor. Há também a curiosidade daqueles que passam a vida a vasculhar a vida dos outros, na tentativa de descobrir algo que mais ninguém sabe e transformá-lo em mais um tema de conversa. É assim que surge o primeiro ponto de interrogação: falar ou calar? Esconder lembranças, emoções e pensamentos é uma ação que muitas vezes nos obriga a uma ginástica mental complicada. Daí que saber a hora de falar e a hora de calar exige um equilíbrio constante entre o emocional e o racional, o que por sua vez pode trazer consigo um grande desgaste. Então o que leva a pessoa a guardar segredo apesar de todo o mal-estar que se cria? – perguntariam vocês. O que faz as pessoas guardarem certos segredos a sete chaves, não é só a falta em quem confiar, mas as desilusões que já tiveram quando confiaram. Quem guarda um segredo pode ter um bom motivo para agir assim, o mais simples dos quais é a autopreservação. Tem uma certa lógica, mas apesar de tudo chega uma altura em que inevitavelmente começamos a pesar os prós e os contras, perguntando-nos até que ponto vale mesmo a pena continuar a carregar o fardo e a manter o silêncio. Ficamos divididos - dizer tudo o que vai dentro de nós, tudo o que nos põe tristes e nos perturba, ou continuar a calar o sentimento de revolta só para não sermos o próximo tema de conversa? Chega sempre um belo dia em que percebemos que a vida é demasiado complicada para a complicarmos ainda mais, e ainda por cima desnecessariamente. Percebemos a importância da sinceridade, da necessidade de sermos sinceros connosco e de não fugir dos nossos verdadeiros sentimentos. Só assim é que conseguimos ser sinceros com os outros, sem nos preocupar se irão nos transformar no próximo tema de conversa ou não. Ao desconfiarmos demasiado provavelmente evitamos algumas desilusões, mas impedimos também a entrada de coisas boas nas nossas vidas. Se calhar não sofremos porque negamos aquilo que sentimos, mas vivemos sobrecarregados com os nossos problemas que não partilhamos com mais ninguém. Ou melhor, não vivemos - sobrevivemos, perdendo inúmeras alegrias. Mas e o que acontece se confiar e a minha confiança é traida? – diria alguém. Paciência, não é o fim do mundo. Como em tudo na vida simplesmente partimos para a próxima. Confiar não é mais do que um jogo de erros e acertos. Se erramos uma vez podemos sempre acertar para a próxima. O importante é não deixar de viver nos intervalos.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Boca Calada é Remedio

Quanto mais procuro solução
Mas arrumo confusão...
Não chego a nenhuma conclusão,
Quando o problema deriva do coração...
Faço tipo... Faço manha...
Uso de qualquer artimanha,
Mas não consigo desfazer,
As intrigas desse meu querer...
Tudo é tão complicado
Melhor deixar de lado,
Tentar seguir em frente
E viver como em um repente...
Nessa batalha verbal,
Que não nos acrescenta nada ao final...
Melhor mesmo é calar a boca,
Fazer-me de muda... De Boba...
Porque nesse nosso eterno duelar,
Acabo falando bem mais do que deveria falar...
Daqui a dianteFarei diferente...
Nada falarei,
Nem mediante a martírio;
Sempre me calarei...
Melhor ouvir só o seu delírio,
Mas não mais replicarei...
Agora quem sabe,
Cheguemos a um acordo...
Só penso que não me cabe,
Dar continuidade a esse jogo...
Vicissitudes finalizadas,
Apostas encerradas.
Não ganhei...Não perdi...
Apenas eu... Eu não vivi...

LoucaporPoesia
Publicado no Recanto das Letras em 12/05/2007Código do texto: T484660